sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Trechos da vida de um amigo querido


Este meu amigo sempre foi guerreiro, pelo menos dês de que me lembro. Dês de as partidas de Mortal Combat no SN, até as grandes batalhas no Age of Mitology. Mas não parava por aí, era brigão na escola indisciplinado, rebelde. A guerra não vem de fora, a guerra vem de dentro, do interior das pessoas. Dos sentimentos confusos, dos desejos que estão conflito... E ela sai do indivíduo de diversas formas, seja com violência, seja com um esporte competitivo, seja com jogos de vídeo game, seja mesmo com discussões sobre política ou religião... São todas as formas de descarregar demônios interiores. Um exemplo: Eu conheço uma moça que pessoalmente não entra em conflito com ninguém, uma flor... Mas pelas redes sociais é uma vigorosa ativista política que choca as pessoas com imagens de uma realidade, de uma causa que ela defende. Ela não é violenta, ela não é discutir, mas a guerra está lá.

E então, voltando ao meu amigo... Lá estava ele, um deus, como todos os adolescentes um dia acreditaram ser. Cabelos longos, corpo no auge físico. Sem culpa, viajando, conhecendo lugares, conhecendo garotas. Sem culpas, sem responsabilidades a não ser se meter em encrenca e aventuras, como uma versão de Connan o Bárbaro, porém uma adaptação da amazônia. Os objetivos da vida dele, zerar em menos tempo possível o maior números de jogos, ou garotas. Talvez a religião dele fosse um pouco de Silent Hill com Castlevania. Ele gostava de Heavy Metal, do André Matos e do Axel Rose dizendo que seriam as únicas pessoas do mesmo sexo que experimentaria. Mas de qualquer forma... todas essas características, apesar de serem fantásticas e de darem uma certa inveja de quem não tem tanta iniciativa possuem um lado perigoso. Os cuidados que ele recebia da família, eram puramente relacionados a moral ética baseada na crença cristã. Não ia muito longe disto, desamparado pelos pais e sentindo inveja dos irmãos, ele foi criado de forma descuidada.

Sim... as pessoas impulsivas, promíscuas e violentas que conheci possuem uma característica muito interessante. Quando eu conheci mais a fundo elas, descobri que de certa forma elas foram criadas ao vento, com descuido. Não estou querendo rotular, são impressões que tive de algumas pessoas assim. De certa forma invejamos pessoas que agem pelo desejo, pelo impulso. Não é por acaso que filmes violentos e os super-heróis fazem tanto sucesso, ou mesmo de disfarçadamente a pornografia. E lá estava ele, sem cuidados, sem se cuidar. Colocando a vida em perigo, passando por situações constrangedoras, complicadas. É um preço alto a se pagar pelos desejos, por querer ser deus. No fundo ele sabia do perigo que corria, pois a medida em que o tempo passava, mais distante ele ficava da própria família... Ele estava virando adulto e os frágeis laços que o ligavam à aquela família que já não cuidava bem dele estavam prestes a se romper. Ele iria ficar totalmente só.

Totalmente só? Talvez não. Havia uma garota... oras, sempre existe uma garota! Drogada, magra... com baixo estima. Ela acreditava nele. Isso é bom, não é? Quando acreditam em nós, investem, amam. E ela fazia tudo isso, e ainda mais um plus-anal. Era o que ela tinha a oferecer, mas... mesmo sendo tão pouco (relativamente) creio que foi importante para a virada que ocorreu na vida dele. Mas que infelizmente não acabou em uma homeostase.

Essa virada eu não pude acompanhar, de longe só via uma paranoia e uma busca por significado.

A religião possui cateterísticas muito peculiares e sociais. Não é por acaso que ela seja tão importante na sociedade. Um dos principais papeis da religião é reprimir os impulsos violentos e sexuais das pessoas. Não é a toa que nas cadeias as igrejas sempre dão certo. Ou na universidade, onde se encontram as pessoas mais sociais e desenvolvidas a religião esteja tão em baixa. É a forma como ela funciona, é uma etapa do desenvolvimento individual e digo mais, humano. Conforme a pessoa cresce ou a sociedade cresce se desenvolve a religião vai perdendo espaço para o secularismo. Pois bem, no caso deste meu amigo, uma mudança era necessária. A religião fez o papel excelente de agência controladora do comportamento e ele mudou de vida. Sem promiscuidades, sem ficar ao vento. Montou uma família com aquela garota e ela deixou as drogas. Eles estudam, trabalham... claro que esta história é muito bonita e até emocionante. Provavelmente ele deve ter usado na igreja dele para mostrar a "transformação da fé." Mas não para por aí.

Como falei antes. Não é ainda homeostase. Eu não posso dizer que fiquei triste com o que aconteceu com ele... Eu acho que seria muita insensibilidade esperar ele evoluir do que está, tudo é feito passo a passo e devagar. Eu acredito que ele deve ter atribuído muito do que é hoje a mudança que aconteceu na vida dele com a conversão. Muita gratidão, muito amor, porém o amor cega. Como eu falei antes, dos cuidados que ele recebeu talvez os mais significativos fossem os relacionados a moral ética baseada na crença cristã. Agora ele teve de abandonar tudo que não estivesse relacionado a moral e ética cristã... ele encontrou a receita de ser feliz já pronta. Todo aquele descuido esta sendo corrigido com a comunidade da igreja dele e agora que possui uma família, deve buscar as bases para construir ela. E onde encontrar isso? Na fé. Só que o preço é alto. Como ele precisa construir uma estrutura e não possui tempo ou não teve o cuidado, uma referência... precisa ser radical. Aí mora outro perigo, ao invés de um equilíbrio ele de um extremo foi a outro, fazendo o caminho oposto, o leão vira camelo. O caminho correto seria, o camelo virar o leão para depois ser criança (vi isso no Assim Falou Zaratustra). Ele era um leão, pensamento solto. Agora ele deve se policiar, pensar antes de pensar. Seguir um modelo já pronto, crucifixado, ele esta se crucifixando, crucifixando a liberdade. Não pode mais se envolver em assunto seculares, não pode se misturar pois ainda está se construindo, construindo as próprias bases. Ele se transformou em um camelo, levando uma carga excessiva de responsabilidades que no fundo não pertencem a ele. Levando uma jaula nas costas. Posso ficar indignado, mas sei que este extremo é passageiro, é enquanto ele organiza a própria identidade. Se ele deixar de ser extremo, é porque deu tudo certo... Uma pessoa normal, seria criada mais presa, com mais carinho e de forma mais segura. É uma forma de ser um camelo, pois tudo que ela aprende e é vem dos pais. De camelo, buscaria a própria identidade o próprio querer e se transformaria em um leão, a independência. Mas com um bom preparo, essa fase é vivida de forma segura. Para com sorte poder virar uma criança. E com os olhos de uma criança aprender mais. Mesmo ele fazendo o caminho inverso sendo antes um Leão, não por opção e agora um Camelo, acredito que ele vai conseguir se transformar em uma Criança.

- Publicado no FabeBook dia 09/10/2012 -  http://www.facebook.com/josellyson.fernandes

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